Leça da Palmeira

A vida entre o Porto de Leixões, a Exponor, a Petrogal e o mar.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Supermercados a mais?

Em resposta ao repto que lancei há dois posts atrás, o leitor Luís Sena propõe que se discuta neste blogue a proliferação de grandes supermercados pela freguesia. Deixo aqui os seus comentários:

"Caro Miguel,

Como habitante de Leça tenho assistido com alguma preocupação ao recente proliferar de supermercados nesta localidade. De uma quase inexistência passamos para uma situação de claro excesso de oferta.

Posso enumerar o Modelo, o Minipreço, o Plus, o Lidl, e mais recentemente o Pingo Doce, referindo-me apenas à freguesia de Leça da Palmeira.

Tal situação provocará certamente um efeito de canibalismo entre as referidas empresas, mas mais grave serão os efeitos no comércio tradicional.

Sendo habitualmente um liberal nestas matérias, e considerando que os interesses dos cidadãos em geral se sobrepõem aos interesses dos comerciantes em particular, não posso deixar de lamentar que as mercearias onde os proprietários nos conhecem, a nós, aos nossos filhos e às nossas famílias e que nos ajudam a carregar as compras até casa (perdoe o romantismo conservador), estejam condenadas à extinção, sendo substituídas por locais frios, onde somos apenas mais um.

Mais que uma questão económica julgo ser esta essencialmente uma questão cultural.

Penso ser este um tema de interesse comum a todos os Leceiros, pelo que, poderá ser objecto de um post no seu Blog.
Fica a sugestão.

Cumprimentos,

Luis Sena"

Fica a sugestão e a opinião. Alguém quer dar a sua?

A minha segue dentro de momentos...

2 Comments:

At sexta-feira, setembro 02, 2005, Blogger Miguel Soares said...

A questão que o Luís Sena propõe é mais complexa, no meu entender, do que à primeira vista se possa pensar. Aqui, nem sequer está em debate o excesso de hipermercados ou grandes superfícies comerciais, mas lojas de média dimensão e proximidade.

Se estivéssemos a falar da Área Metropolitana do Porto e dos grandes centros comerciais que foram nascendo à sua volta (e dentro: Cidade do Porto e Dolce Vita) seria para mim óbvio dizer que há um excesso de espaços deste género. Não tanto pela falta de consumidores, mas sim pela proximidade ao centro da cidade e pelas consequências maléficas para o trânsito. Estes espaços, aos quais se vai de automóvel, fazem sentido longe dos grandes centros urbanos, até para que não acabem com a "vida" na Baixa. (Paradoxalmente, o Via Catarina é um dos pontos de vitalidade do centro portuense).

Ora, aqui o que está em causa é o minimercado e o supermercado de (relativa) proximidade, aos quais se pode ir de carro, mas também a pé. Não parece haver pois o mesmo tipo de problema, pelo menos no que diz respeito ao trânsito.

Quanto à questão económica, tenho duas perspectivas sobre o assunto ( e estou nesta matéria bastante à-vontade porque tenho um familiar próximo que depende do comércio tradicional).

Por um lado, é inegável que do ponto de vista do consumidor há vantagens e desvantagens num e noutro lado: simpatia, carinho até, familiaridade, de um lado; distância, frieza e impessoalidade, do outro; falta de artigos, de um lado; variedade e acessibilidade aos produtos, do outro. Quanto aos preços, nem sempre é verdade que os supermercados pratiquem preços mais baixos.

A abertura de vários espaços deste género em Leça, do ponto de vista da concorrência, é boa para os consumidores. A concorrência aumenta a qualidade do serviço e faz, geralmente, baixar os preços.

Por outro lado, não podemos encarar o Modelo, o Lidl, o Minipreço ou o Pingo Doce como iguais. Têm dimensões e características diferentes pelo que os seus consumidores são também diferentes. Quam faz as compras no Minipreço não vai ao Modelo e vice-versa.

Há ainda um outro aspecto a ter em conta: a abertura destes espaços valoriza as casas, para quem as pretenda vender. Não é por acaso. Quantas vezes já foram à mercearia mais próxima e não encontram o produto que pretendem? No meu entender essa é a principal vantagem do supermercado. Mais produtos no mesmo espaço, ou seja, mais comodidade.

Quanto aos pequenos comerciantes só têm uma solução: organizar-se em grupos, comprar em grandes quantidades e, quem sabe, abrir espaços também maiores com maior quantidade e variedade de produtos.

Queiram discordar, por favor...

 
At sábado, setembro 10, 2005, Anonymous Anónimo said...

Reitero o que disse no mail enviado ao Miguel sobre a questão dos supermercados: "Mais que uma questão económica julgo ser esta essencialmente uma questão cultural".
Não ponho em causa a bondade dos argumentos de natureza economicista enunciados tanto pelo Miguel como pela Vizinha do 2º Esq, não obstante estas questões devem ser analisadas também numa perspectiva social.
Alguém duvidará que o recurso ao comércio tradicional aumenta a integração dos habitantes nas comunidades onde estão inseridos?
Que Leça procuramos? Uma sociedade viva e integrada, ou apenas mais um dormitório?
Em que outro local desta freguesia podemos interagir com os nossos vizinhos?
Talvez nos cafés enquanto não forem substituidos por "Drive-ins"
Como nota final não posso deixar de esclarecer a Vizinha do 2º Esq. Longe de mim a ideia de aceitar uma regulação institucional sobre esta matéria, julgo que fui explicito ao dizer "Sendo habitualmente um liberal nestas matérias, e considerando que os interesses dos cidadãos em geral se sobrepõem aos interesses dos comerciantes em particular..."

 

Enviar um comentário

<< Home

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.